Descripción
O cenário mundial observa-se a existência de inúmeros projetos que focam o emponderamento feminino, cujo objetivo é tentar minimizar os índices de desigualdades de gênero e outros problemas que massacram a mulher na atualidade. Nesse sentido, em setembro de 2015, representantes dos 193 Estados-membros da Organização das Nações Unidas (ONU) adotam a Resolution 70/1 – Transforming our world: the 2030 Agenda for Sustainable Development (ONU, 2015). Trata-se de uma agenda global colaborativa que visa fortalecer a paz universal e garantir maior liberdade aos povos. Um documento com inegável intrepidez, que aborda 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), que se desdobram em 169 metas e juntos atendem às três dimensões para o desenvolvimento sustentável: a econômica, a social e a ambiental. A resolução centra-se nos direitos humanos de todos, e, especialmente no objetivo 5 propõe “achieve gender equality and empower all women and girls” (ONU, 2015). A necessidade de promoção de autonomia e empoderamento não se restringe apenas às mulheres adultas, mas também às meninas; embora reconheçamos que no contexto mundial, a adoção de projetos que envolvem ambos os gêneros possibilitam a redução dos problemas enfrentados pela mulher. Um dos meios que encontramos para trabalhar estes projetos de emponderamento a partir da infância é através da literatura. Na literatura infantil e infanto-juvenil é relativamente nova a percepção do uso de uma linguagem adequada para produzir novas inserções no mundo (LAJOLO & ZILBERMAN, 1985; SILVEIRA & QUADROS, 2015), o que possibilita novos olhares a partir da realidade refletida na literatura ou também da literatura na realidade social. Nesse sentido, em meados do século XVIII, na Europa, as damas de companhia passam a separar o conteúdo adulto do contexto das histórias narradas para as crianças, tal mudança no tratamento infantil ocorreu devido a uma nova concepção familiar que passava a respeitar a criança como um indivíduo com características próprias e a busca da valorização da infância. Em 1697, Charles Perrault (1628-1703) começou a registrar de modo escrito as histórias contadas oralmente, retirando os conteúdos que considerava impróprio para crianças como; trazendo assim uma história com conteúdo mais adequado às crianças (LAJOLO & ZILBERMAN, 1985). Os princípios educativos que regiam pensamento de seleção e critério de Perrault são na arte moral definidos pela contrarreforma que apresentou uma nova visão da valorização da infância, gerando assim maior união familiar permitindo que a criança tenha espaço para crescer. Sendo assim, consideramos como o início da literatura infanto juvenil as adaptações de contos de tradição oral por Charles Perrault na forma escrita para criar seus contos de fadas (TATAR, 2004; GRAY, 2012). O estudo proposto teve como objetivo analisar o conto Chapeuzinho Vermelho em três versões: Charles Perrault, Irmãos Grimm e Robert Darnton para exemplificar as relações de gêneros e os arquétipos do femininos e masculinos, fazendo uma comparação com a versão atual transmitida para as crianças (TATAR, 2004; GRIMM & GRIMM, 1989). O estudo teve como metodologia norteadora quanto à finalidade a investigação aplicada, com abordagem qualitativa conduzida por meio da análise de conteúdos da francesa Laurence Bardin (2010) e uso do software Interface de R pour les Analyses Multidimensionnelles de Textes et de Questionnaires (IRaMuTeQ). O estudo permitiu concluir que a função educativa e moralizadora nos contos de fadas tinha como objetivo primordial a orientação comportamental das crianças com papeis bem diferenciados, cabia à figura feminina o recato e submissão, já a figura masculina a força e dominação. É comum ver esta orientação ressaltada nos motes ao final do conto analisado. Nesse sentido, cabe também à escola ressignificar os contos, trazendo uma nova forma de olhar perceber o mundo e os objetivos propostos pelo objetivo 5, da Resolução 70/1 da ONU. É de suma importância ao docente conhecer a origem dos contos, e fornecer uma versão adaptada ao mundo infantil, lúdica e com objetivos didático-pedagógicos. Na história oral de Chapeuzinho Vermelho pode ser trabalhado o emponderamento das meninas, questões de gêneros e outras situações problemas que a mulher sofre na atualidade. Desta forma, não só Chapeuzinho Vermelho, mas quaisquer outros contos devem ser adaptados e apresentarem objetivos e finalidades para serem trabalhados em sala de aula, buscando sempre respeitar e valorizar a infância, as escolhas pessoais e os direitos de cada um, em uma perspectiva inclusiva, não discriminatória e plural.
Referências
BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. 4. ed. Lisboa: Edições70, 2010.
GRAY, David. E. Pesquisa no mundo real. 2. ed. Porto Alegre: Penso, 2012.
GRIMM, J.; GRIMM, W. Contos de Grimm. Trad. Tatiana Belinky. São Paulo: Paulus, 1989.
LAJOLO, Marisa & ZILBERMAN, Regina. Literatura infantil brasileira: história & histórias. São Paulo: Ática, 1985.
MOREIRA, Lima. Desenvolvimento e crescimento humano: da concepção à puberdade. In: Algumas abordagens da educação sexual na deficiência intelectual [online]. 3rd ed. Salvador: EDUFBA, 2011, pp. 113-123. Bahia de todos collection. ISBN 978-85-232-1157-8. Availa.
Organizações das Nações Unidas. ONU. Resolution 70/1 – Transforming our world: the 2030 Agenda for Sustainable Development. 2015. Disponível em:< https://sustainabledevelopment.un.org/index.php?page=view&type=111&nr=8496&m >. Recuperado em: 18 maio 2019.
PERRAULT, C. Contos de Perrault. Belo Horizonte: Itatiaia, 1997.
SILVEIRA, Rosa Maria Hessel, & QUADROS, Marta Campos de. (2015). Crianças que sofrem: representações da infância em livros distribuídos pelo PNBE. Estudos de Literatura Brasileira Contemporânea, (46), 175-196. Recuperado em 18 maio 19. Disponível em < https://dx.doi.org/10.1590/2316-40184610>.
TATAR, Maria. Contos de fadas. Trad. Maria Luíza de A. Borges. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2004.